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domingo, 17 de março de 2013

FIM DE TARDE

FIM DE TARDE
(Theodoro de Sena)

No dia que eu morri, morri por mim,
Pois deixei nascer na morte
O cheiro obeso e porte
Do engano de minha dor que não vivi.

Pois não vi.
Não vivi.
Não morri por completo na morte.

Já estava morto antes de saciar a morte.
Já estava, ao oposto, ao lado que urro,
Era um depois de antes que eu juro.
...Nunca morro por completo...
Apenas deixo de vê o amor entortar-me.

Entorto-o também!

No dia que nasci sorrindo,
Vi meu mundo se afogar,
Pois ainda ando morrendo
No nascer de cada amar.

E esse abafado do outro muro,
Impregna meu orgulho, do horror da morte em comum,
Com os corpos que nasceram pelo amor
E se extinguirão com ele ou sem.

Sem saber da impaciência que é a morte,
Morro ao nascer o Sol.
Morro ao olhar o nascer, morro, envelheço, fujo!...
Sem ressalvas do reclamar.
Sem debandar do grotesco musgo da morte.
Pois com a morte ou sem morte,
Morro por viver andando sem amar.

Seguidamente sentado, não levanto mais por nada,
Vejo passar nas encostas das minhas portas
As porcas imundas e ávidas do enterro vazio.
Porque a morte aparece dentro do caixão,
Porque o amor é ceifeiro com a ceifa foice na mão.

E se na impaciência das velas de gotas quentes,
Da barba crescente enrolando lágrimas na ânsia,
Ainda sedo ao paralelo de minha agonia forte.
Tenho a certeza que morrer é o destino
Para amar depois da morte.

Sente-se então. Eu desmaio
Em qualquer pedra branca,
Olhar de penas brancas,
Amar em tantas, tantas...
...Cansaço arrogante do atemporal mortiço...
Nada que morre do amor, renasce incomum ao mestiço.

Deixei o capim dourar sem fim de tarde,
Deixei a morte amar o amor.
O amor matou a morte
Intrigando-me na insônia de não morrer: falecer.

Fim de tarde...
Aponto o dedo ao travesseiro,
Cabeça completando o vão da mão.
Orgulho no túmulo utópico da porta, do poste
Que ergue no balanço do fim da escada,
A arma sem pólvora febril de um dia frio após a morte deixada.